quinta-feira, 4 de abril de 2013

Ciclofaixa no eixo e nas asas do Plano

04/04/2013 - Correio Braziliense

Mais do que um espaço seguro para o ciclista, a ciclofaixa do lazer, em teste no Eixo Monumental desde dezembro, terá empréstimo de bicicletas e pontos de apoio para o usuário ao longo de todo o percurso. Além disso, o projeto será ampliado para a W3 Sul e a W3 Norte e deverá estar em pleno funcionamento até julho. A meta do Departamento de Trânsito (Detran) é ofertar todo o serviço de graça para a população.

A faixa exclusiva estará à disposição do ciclistas aos domingos e feriados nacionais. No Eixo, ela começa na Catedral Rainha da Paz e vai até o Congresso Nacional. Já na W3, será colocada em toda a extensão da via, totalizando 38,5km. Na primeira avenida, o usuário já pode usar a via, mesmo sem o projeto estar concluído. Na W3, será preciso esperar um pouco mais.

O projeto é inspirado nas propostas que já existem em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na capital carioca, o usuário se cadastra, fornece o número do cartão de crédito e paga R$ 10 por mês para usar a bike todos os dias da semana. A única condição é que, a cada uma hora, ele devolva o equipamento por 15 minutos. Depois, pode pegar de novo e, assim, sucessivamente. Em São Paulo, existem dois modelos. Em um deles, o serviço é gratuito; no outro, paga R$ 10. "Vamos trabalhar para que aqui o empréstimo seja gratuito", antecipou o diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra.

Beth Davison, economista e ex-vice-presidente da ONG Rodas da Paz, considera o projeto um avanço, mas faz uma ressalva. "O governo precisa aproveitar o momento e fazer campanhas maciças para educar o motorista", destaca. Beth é mãe de Pedro Davison, atropelado e morto aos 23 anos enquanto pedalava no Eixão Sul, em 2006. Para Jonas Bertucci, presidente da Rodas da Paz, as ciclofaixas têm que estar associadas a um projeto de cultura cicloviária. "As campanhas devem ensinar aos motoristas a prezar pela vida do ciclista: reduzindo a velocidade e oferecendo 1,5m de distância em ultrapassagens e dando a preferência à bicicleta nos cruzamentos e nas entradas."

Professor e ciclista, Rubens Martins, 32 anos, foi surpreendido com a notícia e adorou a ideia. "Acho ótimo. Incentivar o uso da bicicleta é uma forma de o poder público promover, ao mesmo tempo, bem-estar, lazer, saúde e um meio alternativo de locomoção", destaca. Mas quem está atrás do volante tem outras preocupações. "Isso vai congestionar o trânsito", critica o motorista profissional Josivaldo Pereira, 35 anos. "Imagina a W3 sem os retornos. Não acho que vai dar certo", aposta Pereira.

Uma equipe do Detran já iniciou a sinalização da pista do Eixo Monumental com a pintura de uma linha vermelha na faixa da esquerda e a colocação de placas. Esta semana, o Departamento de Engenharia concluirá o projeto que definirá quantas estações deverão ser instaladas e o número de bicicletas à disposição do usuário, além da instalação de torneiras e do desenvolvimento de um programa de orientação para o ciclista. "Alguns retornos do Eixo Monumental serão fechados. Os pontos ainda não estão definidos pela engenharia. Já na W3 Norte e na W3 Sul, somente os retornos com semáforo serão mantidos abertos aos domingos e feriados nacionais", explica Adriana Sousa, assessora especial da direção-geral do Detran.

Propostas

Depois disso, o Detran publicará um edital de chamamento público para que as empresas interessadas em implantar o projeto apresentem propostas. Bezerra explica que a escolha da pista da esquerda para a ciclofaixa do lazer se deu por conta da necessidade de espaço para colocar os paraciclos e pontos de apoio ao ciclista. A empresa escolhida fará uma ampla campanha educativa. E haverá parceria com órgãos do GDF, como a Secretaria de Cultura e de Turismo para divulgar a cidade.

Assim que a ciclofaixa do lazer monumental estiver concluída, o projeto será estendido para as demais regiões administrativas. A primeira delas deve ser Taguatinga, nas avenidas Samdu e Comercial Sul e Norte. "Isso deve ocorrer no segundo semestre. Há uma determinação do governador Agnelo Queiroz para que esse projeto seja tocado com prioridade e rapidamente expandido", afirma Bezerra.

Para saber mais

Avanços no Rio

O sistema batizado de Solução Alternativa para a Mobilidade por Bicicletas de Aluguel (Samba) foi lançado em janeiro de 2009. O projeto conta com 60 estações e cerca de 600 bicicletas, nos bairros de: Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico, Gávea, Botafogo, Urca, Flamengo e Centro. Basicamente, o Samba consiste no aluguel de bicicletas em pontos instalados em locais estratégicos. Tem mecanismo de autotendimento e as pessoas podem retirar uma bike e devolvê-la na mesma ou em outra estação. A viabilidade econômico-financeira do projeto decorre da exploração de mídia móvel nas bicicletas e em tarifas pagas pelos usuários para uso do sistema.

Análise da notícia

Ferramenta de educação

(Claudio Fernandes)

Um bem-vindo espaço de lazer, a ciclofaixa precisa também ser uma ferramenta de educação. São recorrentes, nas pistas do Distrito Federal, os casos de desrespeito mútuo entre ciclistas e motoristas. Não é difícil encontrar bicicletas circulando na contramão ou entre os carros, em desacordo com o artigo 58 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Além disso, o capacete é um item ignorado por grande parte dos usuários das magrelas. Na outra ponta do problema, está a intolerância dos condutores. Flagrar um carro tirando "fino" de um ciclista é algo comum nas vias do DF. Trata-se de outra infração ao CTB. Conforme indica o artigo 201, "deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinquenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta" configura infração média. O GDF tem o papel fundamental de educar ciclistas e motoristas. Assim como estimulou a melhoria da convivência entre pedestres e veículos, com o uso respeitoso da faixa de pedestres, o governo precisa mostrar, com campanhas nos meios de comunicação, que há espaço para bicicletas e automóveis nas largas avenidas de Brasília. E garantir, dessa forma, que a ciclofaixa seja, de fato, um espaço de lazer, e não de luto.

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