sexta-feira, 28 de abril de 2023

Torre de TV




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quarta-feira, 26 de abril de 2023

Parque da Cidade

Histórico

Inaugurado em 1978 e projetado pelo paisagista Burle Marx. Conta com 375 hectares, sendo considerado um dos maiores parques urbanos do mundo.

Local de retiro, para reflexão e tratamento espiritual. Se encontra na parte alta do Plano Piloto, mais próxima do céu, diferente do Lago Paranoá na parte mais baixa.

O parque é um natural retiro de pássaros. Um local de silêncio, propício aos bons pensamentos.



quarta-feira, 19 de abril de 2023

Plano Piloto

Vértice nº 8 é lembrado no dia em que se comemoram 114 anos do nascimento de JK

12/09/2016 - Agência Brasileira

Por Samira Pádua

Ponto fica na Praça do Cruzeiro e, a partir dele, foram feitos cálculos para construir Brasília. Acompanhado de uma equipe do Arquivo Público, o agrimensor Jethro Torres, que trabalhou na época, visitou o local nesta segunda (12)

A aproximadamente 38 metros da cruz fincada na Praça do Cruzeiro, no Eixo Monumental, está o Vértice nº 8: ponto usado como referência para colocar em prática as ideias de Lucio Costa para a nova capital do Brasil. A partir dele, foram definidas ainda as linhas de latitude e longitude do Distrito Federal e foi possível dizer, na época, onde estava Brasília no território nacional.


Jethro Bello Torres, um dos agrimensores da Novacap na época da construção de Brasília, esteve no Vertice nº 8 na manhã desta segunda (12), a convite do Arquivo Público do Distrito Federal
Foto Tony Winston/Agência Brasília


A marcação ajudou a definir por onde passariam avenidas e em quais locais estariam as quadras e os blocos, por exemplo — processo do qual participou Jethro Bello Torres, um dos agrimensores da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) na época. Ele era chefe da seção de cálculos do departamento responsável por estudos e projetos.

“Esse é o marco determinado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística lá pelos anos de 1953 a 1955”, explicou o mineiro de Belo Horizonte. “Foram calculadas as coordenadas da cidade a partir dele”, detalhou.

Aos 86 anos, Torres esteve no local na manhã desta segunda-feira (12), a convite do Arquivo Público do Distrito Federal. Hoje, são lembrados os 114 anos do nascimento de Juscelino Kubitschek — também mineiro, mas de Diamantina.

A ideia foi celebrar o dia a partir do resgate de um ponto importante para a história da capital. “Buscamos aliar uma coisa à outra, que é a simbologia dessa homenagem ao Jethro e a simbologia de homenagear o nascimento de Juscelino”, destacou o superintendente do órgão, Jomar Nickerson de Almeida.

 
Fotografia de 1957 mostra o Vértice nº 8 marcado por uma placa branca, 
à direita da cruz, onde foi construída a Praça do Cruzeiro
Foto Arquivo Público do DF/Fundo Novacap


Em 2007, colocou-se no vértice uma laje de cor alaranjada, para que o ponto não passe despercebido. Ele pode ser visto à direita de quem se posiciona de frente para o Memorial JK. “A cidade não foi construída aleatoriamente. Ela teve uma base geodésica, geográfica, cujas coordenadas, infelizmente, são pouco conhecidas, porque não há razão para o povo normalmente conhecer essas coisas — mas é bom saber. Nos mapas nós temos aqueles quadradinhos, por quê? Ali estão as coordenadas, os meridianos, os paralelos”, explicou Torres.

Vértice nº 8 é diferente da estaca zero de Brasília

O diretor de Pesquisa, Difusão e Acesso do Arquivo Público, Elias Manoel da Silva, ressaltou que o Vértice nº 8 difere-se da estaca zero, onde encontram-se os Eixos Rodoviários Sul e Norte e Monumental, no Buraco do Tatu.

Acervo pessoal de Jethro Bello Torres está no Arquivo Público do DF

Em 2009, Torres doou documentos da história do ponto ao Arquivo Público, onde ele também esteve nesta segunda-feira. Entre os papéis é possível observar cálculos e mapas, como um que traz marcado o Vértice nº 8 e pontos que vieram a partir dele. “Colocar o projeto de Lucio Costa no chão não foi apenas um ato poético, foi um ato profundamente técnico”, reforçou Elias da Silva.

O diretor de Pesquisa, que também é historiador, pontuou a importância do acervo recebido há sete anos: “Daqui a 100, 200 anos, quando as pessoas quiserem saber como foi colocado o Eixo Monumental, o Eixo Rodoviário, o aeroporto, como foram alocadas as superquadras dentro de Brasília, os cálculos estão nesses documentos”.

O Arquivo Público do DF também guarda registros orais da história contada por Jethro Bello Torres, em gravações que totalizam aproximadamente seis horas. O material está disponível para consulta de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Não é preciso agendar. O endereço é Setor de Garagens Oficiais Norte, Quadra 5, Lote 23, Bloco B.

Edição: Marina Mercante


Estaca Zero

O ponto de irradiação do projeto de Lúcio Costa


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Introdução

Brasília foi primeiro pensada na alma para depois ser escrita no chão do Planalto Central. Diferente de um arraial, vila ou cidade que nasce de um processo histórico a partir do encontro de pessoas num determinado local em função de um elemento aglutinador, a nova capital do Brasil foi criada e representada graficamente primeiro no papel, a partir de conceitos modernistas e da atividade criadora de Lucio Costa. Ao ser plantada no chão do Cerrado, o processo para sua locação previa a existência de um ponto central, o entrecruzamento dos Eixos Rodoviário e Monumental, identificado na cartografia como a Estaca Zero. A partir desse ponto todos os elementos urbanos se irradiariam. Localizá-lo no chão era fundamental para determinar toda a organização espacial da cidade-capital. Nesta exposição, nos propomos a apresentar alguns momentos da construção de Brasília relacionados à Estaca Zero.

 
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Eixos que se cruzam na intuição de Lucio Costa

A posição onde seria plantada a Estaca Zero no momento em que a cidade fosse locada no chão do Planalto Central já podia ser deduzida do projeto descritivo de Lucio Costa: os eixos que se cruzam. Nesse sentido, poeticamente afirmava que Brasília “nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz.” [1]  Ao colocar a cidade no chão, lá estava a Estaca Zero, no entrecruzar dos eixos, como um coração a irrigar a cidade que nascia.

[1] Projeto do Plano Piloto de Brasília – texto original de Lucio Costa.


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A importância da Estaca Zero

Fincar a Estaca Zero na construção de uma cidade é o mesmo que definir o ponto a partir do qual tudo será referenciado. Todos os componentes da urbanização da cidade são espacialmente definidos e calculados a partir desse ponto irradiador. Somente com a implantação de uma Estaca Zero, as escalas urbanas definidas no papel poderiam ser transferidas para o chão do Cerrado

 
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Dificuldade em estabelecer a Estaca Zero no terreno

Uma das primeiras dificuldades na implantação do plano piloto de Brasília foi estabelecer onde se iria cravar a Estaca Zero no solo da Fazenda Bananal. No mapa, a equipe da Divisão de Urbanismo da NOVACAP tinha conseguido definir, a partir de imagens aéreas e das curvas de nível do terreno, onde a cidade ficaria. Contudo, somente o trabalho dos topógrafos garantiria que as coordenadas que estavam no papel fossem corretamente locadas no terreno.


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Estaca Zero: um bom casamento com Brasília

Tudo dependia da Estaca Zero e Israel Pinheiro pressionava a equipe encarregada do projeto de Lucio Costa para entregar a planta da nova capital. O engenheiro Augusto Guimarães Filho, escolhido por Lucio Costa para implantar o projeto urbano da nova capital, comenta: “Então eu tinha que plantar a Estaca Zero, e só eu! Queria fazê-lo da melhor maneira possível, um bom casamento com Brasília! Ninguém sabia, ninguém me dizia o que tinha que fazer. Doutor Israel queria a planta e eu queria botar a Estaca Zero”.[2]

[2] GUIMARÃES FILHO, Augusto. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1989.


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Estaca Zero e uma sugestão insensata

O dilema em relação à colocação da Estaca Zero chegou a tal ponto que o chefe da Divisão de Urbanismo da NOVACAP, engenheiro Augusto Guimarães Filho, confessa terem lhe sugerido para colocar em qualquer ponto: “Havia uma pessoa, que eu não vou citar nome, que disse: ‘Coloca então; atende Israel Pinheiro! Coloca em qualquer lugar’! Eu dizia: ‘Bom, o senhor assume, é meu chefe, o senhor bota o dedo aqui, é aqui. O senhor é que sabe’. Isso, nesses termos, não estou exagerando.” [3] Felizmente, para o bem da cidade que nascia, só passou à história como uma sugestão insensata!

[3] GUIMARÃES FILHO, Augusto. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1989.


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A escolha do topógrafo da Estaca Zero

Israel Pinheiro, Presidente da NOVACAP, sempre atento a tudo, percebeu o problema enfrentado pelo chefe da Divisão de Urbanismo da NOVACAP. A colocação da Estaca Zero precisava de alguém que conferisse os cálculos enviados do Rio de Janeiro e tivesse a capacidade de procurar as coordenadas geográficas na imensa planura daquele suave declive em direção ao Rio Paranoá. Sem avisar, Israel Pinheiro mandou para o Rio de Janeiro o engenheiro e topógrafo JOFFRE MOZART PARADA, chefe da equipe de Topografia da NOVACAP. Naquele dia a Estaca Zero ganhou o responsável por sua locação no chão do Cerrado.
 

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O Vértice nº 8 e a Estaca Zero

Estava resolvido quem colocaria a Estaca Zero no terreno: JOFFRE MOZART PARADA. Era necessário, agora, procurar as coordenadas de Latitude e Longitude para definir onde ficaria a Estaca Zero. Usando o marco geodésico Vértice nº 8 instalado pelo IBGE, que se encontrava no ponto mais alto da cidade, ao lado do Cruzeiro, Joffre Mozart Parada calculou e estabeleceu onde deveria ser fincada a Estaca Zero. Brasília nasceu a partir do Vértice nº 8 do Cruzeiro e foi irradiada a partir da Estaca Zero. Atualmente o Vértice nº 8 pode ser visto ao lado da Praça do Cruzeiro em concreto e pintado com tinta laranja.


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O dia em que se fincou a Estaca Zero

No dia 20 de abril de 1957, Joffre Mozart Parada e sua equipe, cientes do momento histórico que era a implantação da Estaca Zero, tiraram uma foto memorável diante do Cruzeiro. Começando aos pés do cruzeiro, a equipe, que previamente havia aberto uma clareira cortando em linha reta o suave declive, foi fincando estacas seguindo em direção ao nascer do sol. Da equipe de topografia, quem ficou com o privilégio de fincar no chão a Estaca Zero foi o engenheiro e agrimensor Ronaldo de Alcântara Velloso.[4]

[4] Entrevista de Jethro Bello Torres para o Programa de História Oral do Arquivo Público do Distrito Federal. Conteúdo filmado.


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Estaca Zero e o Cruzeiro de Brasília

A linha de estacas plantadas no chão até à Estaca Zero tinha como ponto de partida o Cruzeiro, local mais alto do sítio onde Brasília estava sendo construída. Aquele traçado de estacas entre o Cruzeiro e a Estaca Zero uniu a primeira cruz plantada na nova capital ao ponto irradiador da urbanização de Brasília, que começava a nascer. O Cruzeiro primitivo se unia à cruz dos eixos da inspiração original de Lucio Costa: “dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz.” [5]

[5] Projeto do Plano Piloto de Brasília – texto original de Lucio Costa.

Sitio Modificado – Monumentos


Estaca Zero e a movimentação de terra

Exatamente na Estaca Zero, no encontro dos Eixos Rodoviário e Monumental, iria ser construída a Rodoviária Central da nova capital e vários outros elementos urbanos previstos no projeto de Lucio Costa. Um dos maiores problemas enfrentados após ser fincada a Estaca Zero foi a enorme movimentação de terra exigida para que naquele ponto “Zero”, de irradiação da cidade, as pistas do Eixo Rodoviário e Monumental fossem construídas em níveis diferentes, evitando-se cruzamentos e facilitando a circulação.


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A terra da Estaca Zero criou a Esplanada dos Ministérios


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Uma maquete para o cruzamento na Estaca Zero

A dificuldade de compreensão de todos os elementos que seriam construídos em diversos níveis na Estaca Zero – rodoviária, mezanino da rodoviária, jardins, viadutos e túnel – levou à produção da única maquete das vias urbanas de Brasília. Recorda o engenheiro Augusto Guimarães Filho: “Só fizemos uma maquete do Eixo Rodoviário, no cruzamento da Estaca Zero, da Estação Rodoviária. Só fizemos aquele. Porque nem o presidente entendia muito bem como eram aqueles três planos. Então nós fizemos uma maquete desmontável.” [5]

[5] GUIMARÃES FILHO, Augusto. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1989.


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Estaca Zero e a criação da primeira “Asa” de Brasília

Segundo o texto “Memória de Cálculos da Urbanização de Brasília – Resumo e Formulário Técnico” a primeira linha de estacas para o zoneamento da cidade que partiu da Estaca Zero, após a locação das coordenadas topográficas do Eixo Monumental, foi a fila de estacas para a locação da Asa Sul. Diante da necessidade de dar nome aos eixos para que as informações entre as equipes pudessem ser executadas no solo, foi Moacyr Gomes e Souza, chefe do Departamento de Viação e Obras da NOVACAP, quem batizou de “ASA” o eixo central que se estende ao Norte e ao Sul do Eixo Monumental de Brasília. [8]

[8] GUIMARÃES FILHO, Augusto. Depoimento – Programa de História Oral. Brasília, Arquivo Público do Distrito Federal, 1989.


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Estaca Zero e o “Buraco do Tatu”

Atualmente, o local da Estaca Zero está situado na pista que corre dentro do túnel abaixo da Rodoviária Central, batizado popularmente, por inspiração a partir de um animal típico da fauna do Cerrado, como “Buraco do Tatu”.  Os milhares de carros que passam por ali todo dia nem imaginam que foi com base em uma “Estaca”, plantada onde hoje está aquele túnel, que se irradiou o projeto urbano, revolucionário e criativo, do arquiteto e urbanista Lucio Costa.

Link da Matéria, com créditos

Plano Piloto

Cai por terra o mito segundo o qual Brasília nasceu na Rodoviária do Plano

30/07/2011 - Correio Braziliense

Aos 75 anos, ainda em plena atividade, o engenheiro Ronaldo de Alcântara Velloso relembra um momento crucial da história do Plano Piloto: a demarcação do Eixo Monumental, do Eixo Rodoviário e da Estaca Zero. Velloso guarda um tesouro: uma cópia da caderneta em que Joffre Mozart Parada calculou as coordenadas da nova capital.

Ronaldo Velloso, na Plataforma Rodoviária,  de frente e de costas para o Eixo que ajudou a demarcar: lembranças idílicas de uma noite de Lua


Brasília não nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse. Ou seja: o Plano Piloto não foi riscado no Cerrado incólume a partir do cruzamento dos dois eixos em ângulo reto. Na prática, a cidade que Lucio Costa inventou com 3.895 palavras começou a surgir na cruz fincada no ponto mais alto da região, a hoje Praça do Cruzeiro. De lá, os topógrafos e os tratores foram descendo, uns atrás dos outros, no rumo leste, até alcançar o lugar onde seria demarcada a Praça dos Três Poderes. Só então, o engenheiro Joffre Mozart Parada demarcou a Estaca Zero, o sinal da cruz, e daí foi fixando, ponto a ponto, o Eixo Rodoviário Sul. E, depois, o Eixo Rodoviário Norte.

O mito segundo o qual Brasília nasceu na Rodoviária cai por terra com o depoimento do engenheiro agrimensor Ronaldo de Alcântara Velloso, um dos topógrafos a demarcarem os dois eixos que, cruzados, definem o corpo da cidade. Aos 75 anos, Velloso continua em atividade profissional numa empresa de engenharia de pavimentação asfáltica com sede na Cidade do Automóvel. Está tão ativo quanto suas lembranças dos nove meses, entre dezembro de 1956 e setembro de 1957, nos quais participou da demarcação da área em que se instalariam a Novacap, a Cidade Livre e o Plano Piloto, pela ordem.

Do escritório da Novacap no Rio de Janeiro chegavam, via rádio, as coordenadas que determinavam o local exato em que a cidade seria demarcada em relação ao Sol e às curvas de nível, marcas que indicam a declividade do terreno. Os engenheiros da equipe de Lucio Costa, chefiados por Augusto Guimarães Filho, determinaram também se a cidade ficaria mais próxima ou mais distante do futuro lago. Dito de outro modo, eles aterrissaram o Plano Piloto no terreno que lhe foi destinado a partir de um desenho em escala 1/25.000. Esticaram uma imagem do tamanho de uma folha de cartolina até a escala de uma cidade real.

Em Brasília, Joffre Parada recebia as coordenadas gerais e calculava as específicas; colava palmo a palmo, por assim dizer, o imenso Plano Piloto. Os primeiros cálculos da nova capital estão guardados num armário de metal na sala de Ronaldo Velloso. É uma cópia amarelada do caderno original, que o engenheiro deixou com o topógrafo para que ele pudesse pôr a cidade no chão. São equações, gráficos, números decimais, sinais aritméticos, triângulos, croquis, tudo escrito com a letra caprichada, a lápis, de Joffre Parada. O Plano Piloto está ali, matematicamente calculado.

Definição

A turma de topógrafos que  demarcou os dois eixos em foto do dia do começo da tarefa, 20 de abril de 1957O mineiro Ronaldo Velloso estava demarcando a Cidade Livre quando Parada o chamou para tarefa muito mais importante: definir com estacas o local onde seria construído o Plano Piloto. ;O escritório da Novacap no Rio mandou pra gente o azimute (ver glossário). Esse ângulo foi determinado no Rio de Janeiro. Brasília partiu do Cruzeiro, onde tem um marco de coordenadas do IBGE. Com uma equipe de uns 10 homens, fomos descendo com o teodolito, locando o Eixo Monumental até a Praça dos Três Poderes. Depois, então, determinaram-se as asas, o Marco Zero. É chamado de Zero porque pra um lado era a Asa Sul e pra o outro, a Asa Norte.;

Se de dia os topógrafos iam marcado a piquete o Eixo Monumental, de noite Joffre Parada ia calculando a cidade. ;A máquina calculadora era uma Facit daquelas que tinham uma manivela que ia pra frente e pra trás. Os cálculos eram feitos com 11 decimais. Era uma conta imensa, uma trabalheira. Hoje, um cálculo que a gente faz em um minuto, naquela época demorava duas horas. Doutor Joffre calculava as coordenadas (ver glossário). Dava pra gente os ângulos e as distâncias e a gente ia locando e ele vinha conferindo.;

A demarcação do Plano Piloto começou 35 dias depois do anúncio do vencedor do concurso do Plano Piloto, Lucio Costa. O resultado da disputa saiu em 16 de março de 1957. Em 2 de abril, o arquiteto já estava em Brasília, em sua primeira das pouquíssimas visitas ao futuro Plano Piloto. Veio com Juscelino Kubitschek e se aborreceu porque havia uma placa, preparada para recebê-lo, onde estava escrito: Avenida Monumental. Imediatamente, Joffre Parada mandou corrigir o erro e apareceu uma tábua onde se escreveu: Eixo Monumental.

Em 20 de abril, 16 homens, entre topógrafos, ajudantes de topógrafos e motoristas, pousaram para uma foto histórica, no Cruzeiro, ao lado de Joffre Parada. ;Naquele dia, íamos cravar o primeiro marco do Plano Piloto;, conta Velloso, diante da foto pendurada na parede de sua sala de trabalho. Daqueles três meses intensos que se seguiram, o engenheiro guardou lembranças indeléveis. ;Do teodolito, eu via emas e veados que se aproximavam do local que estava sendo desmatado, como se quisessem entender o que estava acontecendo.; Como o teodolito aproxima a imagem 28 vezes, o que Velloso via pela lente era uma aparição idílica num mar de Cerrado. O engenheiro guarda também recordações menos líricas. Lembra-se de um dos poucos contatos que teve com o então presidente da Novacap, Israel Pinheiro. ;Ele e Juscelino de vez em quando passavam lá na picada. Um dia, eu estava parado assim, em pé, Israel me viu e falou: ;Ô rapaz, o que é que você está fazendo aí?;. Eu respondi: ;Sou topógrafo, estou locando;. E ele me deu uma patada: ;Então trabalha, não fica aí olhando;.;

Precisão

A equipe de topógrafos, ajudantes de topógrafos e mateiros descia fincando os piquetes de 20 em 20 metros e em seguida os tratores abriam as vias. ;Era tudo muito rápido e, apesar das dificuldades, conseguimos umas precisões muito boas.; Mas houve erros. Velloso conta que já havia demarcado e desmatado uns 400 metros do Eixão Sul quando veio uma contraordem do Rio. ;Mandaram parar o desmatamento e subir a demarcação mais ou menos um quilômetro.; O jornalista Adirson Vasconcelos, autor de mais de uma dezena de livros sobre Brasília, confirma o erro: ;No primeiro cálculo, a asa ia cair no lago;.

Não houve grandes movimentos de terra na demarcação dos dois eixos. O terreno foi só descascado e nem essa tarefa foi das mais complicadas. ;Era um Cerrado ralo;, lembra Velloso, como aquele que existe até hoje ao lado da Catedral Rainha da Paz, no Parque das Sucupiras. Foram feitas escavações no cruzamento dos dois eixos para que o terreno pudesse receber a Plataforma Rodoviária. ;Houve uma movimentação de terra de mais ou menos seis ou sete metros de profundidade. A terra tirada de lá foi levada para levantar o terreno da Praça dos Três Poderes em três ou quatro metros. Havia uma máquina muito grande que ficava escavando a terra e a esteira dela ia enchendo os caminhões. Eram uns 350 caminhões que jogavam a terra na praça. E a equipe de lá já ia aterrando e compactando.; Também houve grande movimentação de terra na obra do 28, o Congresso Nacional, para a construção do edifício sob as duas cúpulas.

Para demarcar o Eixão Sul e depois o Norte, os topógrafos primeiro locaram três retas, uma depois da outra (ver reprodução de páginas da caderneta de Joffre Parada), em angulações diferentes, curvadas na direção oeste. Depois, foram demarcando a curvatura do Eixão Sul. Em seguida, os topógrafos locaram as superquadras, de 360 em 360 metros. Para evitar o efeito da refração, provocado pelo calor do sol nos aparelhos (quando a imagem fica tremida), eles trocavam o dia pela noite. Esperavam escurecer e iam para o Cerrado, com uma lanterna amarrada ao teodolito, para continuar as demarcações. ;Cheguei a pegar 2 graus à noite.; Numa dessas investidas noturnas, quando o Eixo Monumental estava pronto para receber a imprimação (ver glossário), Velloso foi contemplado com mais uma aparição: ;Era noite de lua. Olhei de longe e vi aquele Eixo Monumental branquinho cortando o Cerrado escuro. A maioria das pessoas não ia sentir nada, mas para um engenheiro, aquela imagem era apaixonante;

Longa jornada

Chovia incessantemente nos quatro dias em que o então topógrafo Ronaldo de Alcântara Velloso passou na cabine de um caminhão carregado de jabá que o trouxe de Goiânia a Brasília, em dezembro de 1956. ;Tive que descer umas 12 vezes para ajudar a desatolar o caminhão. Descarregávamos a carne, o caminhão saía do atoleiro e o carregávamos de novo.; Havia uma fila de mais de 50 caminhões atolados na estrada. Todos traziam material de construção e suprimentos para a nova capital.

Depois de quatro dias e quatro noites comendo muito mal, esfomeado, Velloso não teve saída. Comeu do jabá que havia transportado no caminhão. ;A comida era muito ruim. Era arroz, feijão e jabá. A gente partia o arroz com a faca e o feijão vinha nadando em cima de um caldo.; Àquela época, formado em técnico de agrimensura, Velloso foi convocado a demarcar a área onde seria construído o galpão da Novacap, na hoje Candangolândia. Depois, foi participar dos estudos para nivelamento da área da Barragem do Lago Paranoá. Em seguida, demarcou a Cidade Livre. Só então, começou a locação do Plano Piloto.

Em setembro de 1957, Ronaldo Velloso foi convidado pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem) de Goiás para fazer estudos de implantação da rodovia Goiânia/Rio Verde. O salário era duas vezes maior do que o recebido em Brasília. No governo Castelo Branco, foi convidado a fazer nova medição da rodovia Belém-Brasília, por suspeita de que estava havendo fraude nas medidas anteriores. Só em 1973, já formado em engenharia, voltou a morar em Brasília e desde então trabalha em empresa de construção de estradas. De lá para cá, já fez mais de 500 obras de estacionamento, vias, meio-fios, calçadas.

Aos 75 anos, ainda em plena atividade, o engenheiro Ronaldo de Alcântara Velloso relembra um momento crucial da história do Plano Piloto: a demarcação do Eixo Monumental, do Eixo Rodoviário e da Estaca Zero. Velloso guarda um tesouro: uma cópia da caderneta em que Joffre Mozart Parada calculou as coordenadas da nova capital

GLOSSÁRIO

Azimute: É o posicionamento de determinado ponto na Terra em relação ao norte.

Coordenadas: Cada uma das coordenadas esféricas (longitude e latitude) de um ponto no globo terrestre que tem como referência o Equador e um meridiano de origem.

Imprimação: É a aplicação de uma camada de material betuminoso sobre a superfície a ser asfaltada para impermeabilizar a área e aumentar a aderência ao revestimento.

Teodolito: Instrumento de precisão usado em topografia para medir ângulos horizontais e verticais.


LINHA DO TEMPO
MARÇO/ABRIL de 1957

12 de março ; Instala-se a Comissão Julgadora do concurso para o Plano Piloto. A Comissão se reúne no Salão de Exposições do Ministério da Educação e Cultura para avaliar os 26 projetos concorrentes.

16 de março ; Anunciado o vencedor do concurso, o projeto n; 22.

2 de abril ; Lucio Costa visita Brasília pela primeira vez. Vem com Oscar Niemeyer, Juscelino e comitiva, entre os quais os jornalistas Raymond Cartier, da revista Paris-Match e L.Kessel, da Life. Juscelino inaugura a estação de passageiros do aeroporto comercial. Percorre as obras numa caminhonete Vemag, a primeira fabricada no Brasil. Vai à Cidade Livre. Depois do almoço, JK conversa longamente com Lucio Costa.

7 de abril ; Ao meio-dia, aterrissa no aeroporto o primeiro avião comercial. Um Curtiss-Comander da Companhia Lóide Aéreo prefixo PPLDS.

20 de abril ; Uma equipe de topógrafos liderada pelo engenheiro Joffre Mozart Parada começa a demarcar o Eixo Monumental.

LEIA NA EDIÇÃO DE 13 DE AGOSTO DE 2011 ; Em maio e junho de 1957, Juscelino inaugura a pista do aeroporto comercial e o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira. O Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) começa a acompanhar a chegada dos candangos. Em 3 de maio, 10 mil pessoas se reúnem no Cruzeiro para a primeira missa na nova capital. Os padres salesianos começam a construção do Colégio Dom Bosco.

Correio Braziliense, 13/08/2011