quarta-feira, 23 de novembro de 2011

E o Bilhete Único?

23/11/2011 - Rafael Martins

Dando início a série de reportagens sobre o transporte do DF e Entorno, vamos falar hoje sobre a promessa de implantação do Bilhete Único Metropolitano.

Reportagem de Rafael Martins

Usar o transporte coletivo do DF diariamente não é tarefa fácil. Os desafios enfrentados pelos passageiros todos sabem na ponta da língua. Veículos superlotados, frota sucateada, tarifa alta, falta de integração entre outros.

Promessa e carro-chefe da campanha no setor de transportes do atual governador Agnelo Queiroz, o Bilhete Único Metropolitano pretendia não só integrar os modais de transporte do DF (ônibus-ônibus, ônibus-metrô, ônibus-VLT e etc), mas também integrar o sistema de transporte do Entorno com o do DF. Segundo o Jornal de Brasília em matéria publicada no dia 07 de agosto, uma pesquisa feita para uma tese de mestrado, na Universidade de Brasília (UnB), mostra que, em pouco mais de 60% dos deslocamentos, é preciso utilizar mais de uma linha de ônibus para se chegar ao destino desejado. E o pior é que, em quase todos esses casos, o usuário precisa pagar por duas ou até três passagens. Isso, porque apenas 20 das 1.006 linhas de ônibus existentes são integradas. O jeito é tomar dois ônibus e pagar duas passagens para ir ao trabalho. Nessa rotina, entre esperar e viajar nos ônibus para chegar ao destino, há quem passe até cinco horas por dia se locomovendo e chegue a gastar até R$ 300 com passagem a cada mês.

Para quem mora no Entorno e não tem uma linha direta ao destino desejado, desembolsa ainda mais. As principais rotas do Entorno para o DF tem como destino o Plano Piloto e Taguatinga. "É díficil para mim. Moro em Planaltina de Goiás mas trabalho em Taguatinga e não tem ônibus daqui direto para lá. Então tenho que pagar a mais no metrô, que é o meio mais rápido para eu chegar no meu serviço. Se tivesse esse bilhete único, ajudaria demais, eu teria uma economia no fim do mês e tanto, pois quase todo meu salário é para bancar a passagem", diz a vendedora Rafaela Mendonça. "Eu pego 4 ônibus por dia. É cansativo além de caro. Gasto em média 12 reais por dia, e isso pesa no final do mês, e ainda queriam aumentar a passagem. Daqui uns dias vou ter de parar de comer pra bancar a passagem. Então acho que está mais na hora de ter uma integração aqui em Brasília. Isso é uma vergonha para uma capital do país.", reclama a babá Rosemeire Dantas que mora na Guariroba, na cidade de Ceilândia. "E ainda querem a Copa por aqui. Faça-me o favor, se o básico que é integrar o sistema de transporte não estão conseguindo, que dirá que darão conta de planejar e executar uma logistica nesse setor para um evento desse. Isso é inaceitável", desabafa o aposentado Gabriel Armando.

O preço médio da passagem no DF é R$ 2,00, mas nas cidades mais afastadas como Ceilândia, Brazlândia e Itapoã, por exemplo, o passageiro tem de desembolsar 3,00. Para um trabalhador que recebe um salário mínimo, uma boa parte é para o custeio do transporte. A integração além de gerar economia para quem usa o tranporte, facilitaria os deslocamentos, já que todo o sistema, independente do modal de transporte, estaria todo integrado. Um bom exemplo de começo de integração são as linhas da estatal TCB com o Metrô-DF. Basta que o usuário utilize o cartão “FACIL’ (Vale-Transporte ou Cidadão) no Metrô e lhe será cobrado R$ 3,00 (três reais), a partir deste momento, você terá um prazo de 02 (duas) horas para ingressar nos ônibus da TCB e lá nada lhe será cobrado. No trajeto de volta, o passageiro utiliza os ônibus da TCB e será cobrado no cartão “FÁCIL” R$ 1,50 (um real e cinqüenta centavos) e no prazo de (02) duas horas será apenas mais R$ 1.50 (um real e cinqüenta centavos) no Metrô. Isto é integração. "Moro em Samabaia mas trabalho na Esplanada. Os ônibus direto demoram muito, e o conforto e agilidade do metrô em relação ao ônibus compensa mais. Uso a integração do Metrô com a TCB e me deu uma boa economia no fim do mês. Se eu gastava em média R$ 250 reais, hoje gasto um pouco mais que R$ 140.", diz a cozinheira Vânia Pires. "Para quem mora perto do Metrô e trabalha no Plano é ótimo. É uma economia, bem que podia estender essa integração para todas as linhas", diz o analista de sistemas Daniel Faria.

O primeiro passo para a mudança do sistema de transporte coletivo foi dado. Em junho o GDF retomou o controle da Fácil, que detinha a bilhetagem eletrônica. Segundo o G1, para o DFTrans, a gestão direta pode mudar a realidade que os usuários enfrentam diariamente. “O governo vai poder identificar com mais precisão custos e receitas. Até para que possamos discutir a questão da tarifa com segurança. Precisamos ter mais controle”, ressaltou.

Vale ressaltar que a integração de todo o sistema está prevista no programa Brasília Integrada.

O programa

O Brasília Integrada é um marco conceitual que estabelece novas diretrizes relativas à melhoria do transporte urbano do Distrito Federal.

Todas as ações desenvolvidas para a área de transportes no DF devem estar em consonância com os conceitos do Brasília Integrada:

- integração das políticas urbanas e de transporte do DF

- priorização do transporte público coletivo e dos modos não motorizados visando o desenvolvimento sustentável

- instituição do sistema integrado de transporte

- melhoria da mobilidade dos cidadãos e segurança de tráfego (pedestres, ciclistas e motoristas)

- acessibilidade universal

- adoção de novas tecnologias de transporte coletivo

- modernização dos sistemas de controle de oferta e demanda

- elaboração de projetos de infra-estrutura de apoio compatíveis com as necessidades da população

O segundo passo está na licitação de todo o sistema, que com ela poderá vir a integração. É importante lembrar que a atual licitação, de 900 ônibus, encontra-se suspensa, pois houve questionamentos na modalidade de se licitar o sistema. O GDF normalmente licita frota, mas o modelo mais viável é bacia de linhas e é o que foi recomendado para que o GDF mudasse, para seguir adiante na mudança do sistema de transporte coletivo da capital.

Enquanto não há uma mudança radical em todo o sistema, o passageiro tem de enfrentar todos os dias os mesmos problemas que são rotina em suas vidas. E a pergunta que o passageiro faz é: quando é que teremos o bilhete único e um sistema eficiente? Uma pergunta teoricamente que é fácil de ser respondida, mas praticamente díficil de ser concretizada.

As informações sobre o Brasília Integrada encontra-se no site da Secretaria de Transportes, bem como o PTU(Programa de Transporte Urbano do DF) do qual o Brasília Integrada faz parte.

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