domingo, 16 de agosto de 2009

Aeroporto

Infraero não vai seguir projeto para o Aeroporto de Brasília feito em 1990

Lúcio Vaz

Publicação: 16/08/2009 09:10


Autor do projeto do Aeroporto de Brasília, o arquiteto Sérgio Parada reagiu à declaração do diretor interino de Operações e Engenharia da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), João Jordão, de que a sua concepção seria “antiga” e “ineficaz”. Em vez de completar o projeto, construindo o satélite Sul, a estatal vai ampliar o terminal de passageiros utilizando um novo modelo.

“O projeto não é desatualizado. Ele segue a tendência dos aeroportos mais modernos do mundo. A questão é que ele foi feito em 1990, para estar concluído no fim da década de 90. A sua capacidade máxima de operação (oito milhões de passageiros), com o terminal completo, seria atingida em 2008. Mas até hoje a segunda etapa — o satélite Sul — não foi feita. O projeto não tem que ser mudado, tem que ser concluído. Depois, então, deve ser feito um segundo terminal, porque já atingimos o volume de 11 milhões de passageiros em 2007”, disse Parada.

O diretor da Infraero reabriu a polêmica, em entrevista ao Correio, ao tentar explicar por que a data de conclusão das obras no aeroporto de Brasília foi adiada de 2010 para 2013, apenas um ano antes da realização do Mundial de 2014. “Sim, nós tivemos uma mudança na concepção do projeto, que previa mais um terminal satélite. Esta é uma concepção antiga. Outros países que tinham esse projeto estão mudando, porque ele não se mostrou eficaz e não atende satisfatoriamente ao nível de conforto esperado. Então, isso acaba gerando um atraso (nas obras), mas o aeroporto estará pronto para a Copa do Mundo”, assegurou João Jordão.

No início do ano, Parada e a Infraero haviam debatido publicamente sobre a mudança do projeto de arquitetura do aeroporto. A estatal afirmou que não abriu um novo debate sobre o tema. Teria apenas reiterado um posicionamento já manifestado ao jornal em fevereiro deste ano.

“Puxadinho”
Parada disse que a Infraero estaria usando a desculpa da mudança de modelo para justificar o atraso na obra. “Após 19 anos, ainda falta a construção do satélite Sul. Agora, querem juntar um prédio no outro, fazer um puxadinho. Falam que o projeto original não proporciona conforto. Mas ele atende a uma demanda maior do que a capacidade projetada pela Infraero. Isso demonstra que o projeto arquitetônico é compatível.” Como autor da proposta, ele lamenta a alteração do seu projeto: “No Brasil, não há respeito à obra de arquitetura nem aos arquitetos autores dos edifícios”.

A Infraero argumentou, em fevereiro, que um aeroporto é um organismo dinâmico. Novas obras e reformas são necessárias para acompanhar o crescimento do volume de passageiros. Embora não estando entre os três maiores aeroportos do país, o de Brasília é o segundo em voos. A estatal lembra que o projeto atual foi concebido em 1990. A primeira etapa da obra foi entregue em 1996, com a construção do satélite Norte e a ampliação de dois terços do corpo central do antigo terminal. Na segunda etapa, encerrada em 2003, foi concluído o corpo central do terminal de passageiros.

Meta é atender 20 milhões de passageiros

O objetivo da atual reforma é atender a uma demanda de 20 milhões de passageiros. Segundo a Infraero, a construção do satélite Norte criaria apenas sete novas pontes de embarque, quando o necessário são 26. A empresa rejeita a hipótese de fazer um segundo terminal, separado e distante do atual. Sérgio Parada afirma que a comunicação entre os terminais seria resolvida com a construção de túneis e passarelas, como acontece nos grandes aeroportos do mundo.

Segundo a Infraero, concepções arquitetônicas que já foram de funcionalidade incontestável mostram-se, hoje, inadequadas. “Como em 1990, quando o partido arquitetônico da década de 70 foi abandonado em benefício de uma tendência internacional da época, os dias atuais orientam para um novo modelo. No entanto, escravizar o futuro a paradigmas do passado não parece ser a opção mais inteligente. No transporte aéreo, a evolução tecnológica desenvolve-se em velocidade vertiginosa e os aeroportos também devem se atualizar no mesmo ritmo. Ressalto que a Infraero não pode perder de vista as necessidades do passageiro, nosso foco principal, e que sobrepor a forma à funcionalidade seria descabível”, escreveu o então presidene da Infraero, Celonilson Nicácio Silva, nas páginas de Opinião do Correio, em 28 de fevereiro deste ano.

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