quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Torre de TV

Revitalização: Feira da Torre será removidaObras no monumento começam mês que vem pela construção do novo espaço para os artesãos, que fica mais abaixo do cartão-postal. Boa parte deles, no entanto, não concorda com a mudança, temendo perder clientela

Gizella Rodrigues

Publicação: 06/08/2009 07:50


 Imagem mostra como ficará a nova Torre de TV: livre da tradicional feira - (Brasilia turismo/Divulgação)
Imagem mostra como ficará a nova Torre de TV: livre da tradicional feira
Um dos principais cartões-postais de Brasília será remodelado até o aniversário de 50 anos da cidade, comemorado em 21 de abril de 2010. Depois de anos de discussões e promessas, o projeto de revitalização da Torre de TV saiu do papel e as obras já começam mês que vem. Pelos planos do governo local, o monumento projetado por Lucio Costa ficará livre da interferência visual das barraquinhas da tradicional feira, que serão removidas. A reforma prevê a transferência dos feirantes para um espaço abaixo da torre, ao lado de onde ficam atualmente as antenas de emissoras de rádio e televisão. A mudança está prevista para ocorrer entre fevereiro e abril do ano que vem, apesar da resistência de grande parte dos artesãos.

A restauração da Torre de TV foi dividida em quatro etapas (veja quadro). A primeira delas é a construção do novo espaço para os feirantes, que terá 600 barracas. Todas as estruturas serão fixas e padronizadas, feitas de ferro. Uma banca será separada da outra e a feira terá calçadas, urbanização e dois banheiros (um masculino e um feminino). O GDF também contratou uma empresa que vai fazer um estudo sobre a estrutura metálica da torre e, dependendo das conclusões, vai promover a reforma. Além disso, há planos de reativar o restaurante panorâmico e a fonte luminosa.

A primeira etapa da obra, que vai custar R$ 14,9 milhões, foi licitada no último dia 21. A AJL Engenharia e Construções venceu a concorrência e espera apenas a licitação ser homologada para que o contrato com o governo seja assinado. O secretário de Obras, Márcio Machado, afirmou que o governo pretende contratar a empresa ainda este mês. Assim, a AJL promete começar a construção em setembro e entregar as novas barracas até fevereiro. “Até podemos fazer em um prazo menor, mas dependemos da homologação da licitação e da entrega de materiais”, contou o presidente da empresa, Luciano de Souza Maciel Pires.

No decorrer da construção do novo espaço da feira, os artesãos não precisarão sair do local onde estão hoje, nos pés da torre. Mas, assim que a empresa concluir a obra, o GDF quer começar a remoção. Na próxima quinta-feira, representantes da Brasiliatur, da Administração de Brasília, da Agência de Fiscalização, da Coordenadoria das Feiras e da Secretaria de Trabalho vão se reunir para começar a estudar como será a transferência. “Queremos dar estrutura para que todos possam estar em uma barraca mais confortável. Hoje, elas enfeiam a torre e atrapalham a circulação de pedestres pelo local”, justificou o presidente da Brasiliatur, João Oliveira.

Agressão ou tradição?
Mas o trabalho não será fácil(1). Os artesãos, que estão no local há quase 40 anos, resistem em mudar de local, com medo de perderem a clientela. “Vou brigar até o fim para não sair daqui. Ninguém quer largar o ponto para ficar lá embaixo. É claro que não vai ter movimento”, reclamou a artesã Célia Teixeira Pinheiro, 65 anos, que restaura esculturas em gesso e constrói mensageiros do vento de bambu há mais de 30 anos no local. O colega dela, Marcos Antônio Pereira Neri, 37, tem uma barraca onde vende camisetas como lembranças de Brasília. A banca era da avó dele e está com a família há 35 anos. “Vivo disso aqui e acho que a gente vai ficar isolado lá embaixo”, disse.

O projeto de mudança, porém, tem o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para o superintendente regional do órgão no DF, Alfredo Gastal, a feira, no local onde ela fica hoje, é uma agressão ao tombamento de Brasília. “Os únicos dois projetos (de arquitetura) do Lucio Costa em Brasília são a Torre de TV e a Rodoferroviária. Com as barracas sendo colocadas atrás da torre, o espaço vai ficar livre e mais agradável. É importante que se faça essa obra a curto prazo e que ela esteja pronta no aniversário de 50 anos da cidade”, afirmou.

1 - RESISTÊNCIA
As negociações entre o governo e os artesãos para a remoção da feira devem começar sábado. O governador José Roberto Arruda pode participar de um musical na Torre de TV, à tarde, e pretende, na ocasião, conversar com os feirantes para persuadi-los da importância da mudança.

» Obra em etapas

1ª etapa
Construção de 600 barracas no novo espaço, urbanização do local e construção de dois banheiros

2ª etapa
Construção de um novo estacionamento entre a Torre de TV e a Funarte

3ª etapa
Construção de um anfiteatro e salas de oficinas de artesanato

4ª etapa
Reconstrução das calçadas onde estão as barracas atualmente, modernização do elevador e reforma da estrutura de aço

» Para saber mais
Projeto de Lucio Costa

A Torre de TV foi projetada pelo urbanista Lucio Costa, em 1959, e inaugurada oficialmente em 9 de março de 1967. O mirante foi inaugurado antes, em 21 de abril de 1965, em comemoração ao quinto aniversário da nova capital federal. Até então, a torre não tinha sido concluída — estava com 140m de altura. Hoje, ela mede 224m. É a mais alta da América Latina e a 13ª do mundo.

A altura do mirante (75m) equivale a um prédio de 25 andares. De lá, é possível ter uma visão de quase toda a cidade e localizar, por exemplo, a Esplanada e o Lago Paranoá. Não é preciso pagar para subir ao mirante. No espaço, cabem 250 pessoas. Um único elevador faz o transporte dos visitantes.

A 25m do chão, funciona o Museu Nacional de Gemas, administrado pelo Sebrae. O espaço abrigou durante anos um restaurante panorâmico, que deve voltar a existir com o projeto de revitalização. A torre é o segundo maior centro de visitação de Brasília — perde apenas para a Catedral. O monumento recebe cerca de 1,2 milhão de visitantes por ano.

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