terça-feira, 29 de junho de 2010

Brasília ganha um guia completo com 50 obras de Niemeyer


Algumas são conhecidas no mundo inteiro, como a Catedral, e outras nem tanto, como a Casa da Manchete. O Lançamento da obra será hoje


Leilane Menezes - Correio Braziliense
Publicação: 29/06/2010 08:24 Atualização: 29/06/2010 08:36

Uma das obras mais famosas de Niemeyer, a Catedral - ()
Uma das obras mais famosas de Niemeyer, a Catedral
Brasília é um banquete para os olhos de qualquer visitante ou morador da cidade que saiba valorizar o privilégio de ter uma paisagem inconfundível como cenário do cotidiano. São tantas as atrações que o olhar se perde, se inebria com o movimento das curvas dos monumentos e com a ousadia do concreto pousado no ar. A arquitetura de Oscar Niemeyer imprime identidade à capital. Para entendê-la melhor e trafegar entre as maravilhas sem perder nenhuma experiência, os interessados terão a ajuda de um guia elaborado especialmente para contar a trajetória do arquiteto mais importante da história de Brasília.

Hoje, será lançado o Guia de obras de Oscar Niemeyer: Brasília 50
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anos, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, às 19h. Na ocasião, 200 exemplares serão distribuídos de graça. Não é preciso ter convite para participar. O guia pode ser lido gratuitamente na internet, por meio do link
http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/3565. Quem quiser tê-lo em mãos terá de desembolsar R$ 22,64, somente na Livraria da Câmara.

A publicação é inédita e mostra obras famosas, como a Catedral — a preferida do arquiteto — e o Congresso Nacional. Mas se destaca por não esquecer de apresentar locais menos explorados, como o edifício construído para ser a sede da Telebras e a Casa da Manchete, antigo local de funcionamento da revista de mesmo nome, escondido entre prédios comuns na Quadra 1 do Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Cada uma das 50 obras selecionadas vem acompanhada de uma breve explicação sobre sua história, além dos horários de funcionamento. O texto é traduzido para inglês e espanhol.

O guia é um projeto do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Brasília (IAB-DF), em parceria com dois professores da Universidade de Brasília (UnB) — os arquitetos Sylvia Ficher e Andrey Schlee — e a Câmara dos Deputados. O roteiro é dividido em cinco partes: Esplanada dos Ministérios, Eixo Monumental, Roteiro Histórico, UnB e Niemeyer completo. Entre uma página e outra, encontram-se as preciosidades ignoradas por guias comuns de turismo em Brasília e que se tornam as menos visitadas.

Juntos, os textos de Andrey e Sylvia e as fotografias de Joana França constroem um panorama sobre a trajetória de um gênio da arquitetura moderna. “A intenção é entender o desenvolvimento de Niemeyer nessas cinco décadas. O trabalho dele em Brasília, porém, tem mais de 50 anos. Tudo começou com o Catetinho, em 1956”, explicou Sylvia, uma estudiosa da arquitetura moderna e, consequentemente, de Oscar Niemeyer.

Estilo próprio
NÃO PERCA
Lançamento do Guia das obras de Oscar Niemeyer: Brasília 50 anos
Data: Hoje
Local: Salão Nobre da Câmara dos Deputados
Horário: 19h
Onde comprar: Livraria da Câmara - (Camara dos Deputados/Reprodução
)
NÃO PERCA Lançamento do Guia das obras de Oscar Niemeyer: Brasília 50 anos Data: Hoje Local: Salão Nobre da Câmara dos Deputados Horário: 19h Onde comprar: Livraria da Câmara

“Meio século atrás, o trabalho dele era muito diferente. Tínhamos um profissional que era experiente, não era jovem, mas ainda não tinha toda a fama e o prestígio que passou a ter na sequência. As obras daquele tempo eram mais modestas que as atuais. Hoje, Niemeyer tem um estilo próprio. Tudo que ele faz leva uma assinatura, é reconhecível automaticamente como de autoria dele”, afirmou a arquiteta.

O Palácio da Alvorada (1956), o Brasília Palace Hotel (1956) e a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1957) representam um período de transição da arquitetura de Niemeyer. Segundo os organizadores do livro, a diversidade de materiais — própria das obras anteriores — “mistura-se à nascente síntese formal dos palácios da Praça dos Três Poderes (1958) e da Esplanada dos Ministérios — também presentes no guia”.

Niemeyer volta a deixar marcas de seu poder de se reinventar depois da inauguração da capital. “A contínua necessidade de construção de edifícios em um curto período de tempo levou Niemeyer à pesquisa com pré-fabricação e pré-moldados de concreto, presentes sobretudo nas obras do câmpus da UnB (1963), em parceria com o arquiteto João Filgueiras Lima”. A peculiaridade de cada obra é levada ao limite nos anos seguintes. O guia dá destaque aos “vãos generosos, como os da Estação Rodoferroviária, e na estrita expressão modular da Aliança Francesa ou do Touring Clube (1962)”.

O guia mostra que o Niemeyer geralmente associado a realizações monumentais também pode estar onde o grande público menos imagina, como em casas geminadas ou em capelas anexas a edifícios públicos. “É na capacidade de síntese que se encontra o elo entre todos os trabalhos. Essa característica pode ser mais claramente apreciada nas diversas torres de escritórios situadas nas áreas gregárias de Brasília, bem como na alvura das obras monumentais mais recentes”, explica o guia.

"A intenção é entender o desenvolvimento de Niemeyer nessas cinco decadas"

Sylvia Ficher, uma das autoras do guia



Saiba mais:

Casa da Manchete (1974 –1978)
Setor de Indústrias Gráficas, Quadra 1:

“Trata-se de um conjunto de três edificações: dois blocos para oficinas e depósito de material gráfico e um bloco principal, a sede da revista, Casa da Manchete. O prédio é organizado em três alas em torno de um pátio central, formando uma planta em “U”. Sua estrutura é composta por pórticos de concreto armado aparente com mísulas arredondadas, características da arquitetura de Niemeyer à época.”

Fundação Educacional do Distrito Federal (1963)
Setor de Grandes Áreas Norte 607, Módulo D, UnB

“Edifício projetado para abrigar o Instituto de Teologia da Universidade de Brasília, que tinha orientação ecumênica e fazia parte da estrutura universitária. Trata-se de uma construção oblonga de três pavimentos, caracterizada pela repetição ritmada de um mesmo elemento vertical (30 vezes em cada fachada principal) e pela estrutura independente abobadada que cobre parte do volume do prédio. O projeto inicial previa a construção de um edifício de moradia para a comunidade do Instituto de Teologia Católica e respondia a um programa convencional, composto de dormitórios, refeitórios, bibliotecas e oratórios para noviços, estudantes e padres. Com a crise política de 1964, o prédio foi vendido para a Fundação Educacional do DF.”

Residências geminadas (1957 – 1958)
Quadras 707, 708, 711 e 712 Sul

“A escolha do plano urbanístico foi feita em março de 1957. Logo Niemeyer passou a trabalhar em projetos de urgência, como a definição do sítio ideal para a construção das casas dos funcionários públicos que seriam transferidos para a capital ou o detalhamento de alguns dos setores da cidade. Como as superquadras foram planejadas com blocos residenciais, o sítio escolhido para as habitações populares foi aquele onde Lucio Costa imaginara o espaço para ‘floricultura, horta e pomar’. Assim, o próprio Niemeyer acabou projetando as quinhentas unidades residenciais das quadras Sul 707, 708, 711 e 712 para a Fundação da
Casa Popular.”


Projeto antigo
O livro seria lançado em comemoração ao centenário de Oscar Niemeyer, mas problemas burocráticos atrasaram a publicação. Em 2006, o então presidente do IAB-DF, Luiz Otávio Alves Rodrigues, convidou Sylvia Ficher e Andrey Schlee para trabalharem no projeto. Desde então, os dois arquitetos se dedicaram a dissecar cada vertente dos 50 locais de arquitetura mais marcante. “Alguma coisa sempre fica de fora. Mas tentamos incluir os pontos mais significativos”, explicou Sylvia.

A gestão de Luiz Otávio terminou, Igor Soares Campos assumiu a presidência e não desistiu do projeto. Somente em 2010, com o clima de festa pelo cinquentenário de Brasília, o guia pôde chegar ao público, com o apoio da editora da Câmara dos Deputados. O Correio tentou contato com Oscar Niemeyer para saber o que ele achou do livro, mas o arquiteto teve um dia ocupado ontem. “Acho muito válido esse projeto. Ele (Niemeyer) não foi consultado, nunca tinha pensado nisso e não sabia do lançamento. Mas, com certeza, aprova a ideia”, disse a mulher, Vera Lúcia Niemeyer.

A fascinação pelo legado do arquiteto persiste. “Há um interesse muito forte por tudo que diz respeito a Oscar Niemeyer. Ele representa um tipo de atuação profissional fascinante, por exemplo, para o estudante de arquitetura. Existe um grande interesse pela obra e pela pessoa dele, que exerce um fascínio por ser uma arquitetura de autor que nem todo profissional tem condições de desenvolver”, concluiu Sylvia. (LM)

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