sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Maioria dos moradores de rua do DF veio de outras regiões do país

17/12/2010 - Bom Dia DF

Conheça, com exclusividade, dados do primeiro Censo da população de rua do Distrito Federal. O levantamento revela que a maioria dorme no Plano Piloto. Parte deles sobrevive de esmola.

Durante cinco dias do mês de outubro do ano passado os moradores de rua do Distrito Federal ganharam atenção. Eles foram entrevistados, um a um, e puderam contar histórias e porque vivem largados no mundo. 

Cruzando os dados de 2.365 mil entrevistados descobriu que a maioria tem mais de 18 anos; 66% são homens; um quarto sobrevive com dinheiro que ganha para guardar ou lavar carros. Mas há os que dependem exclusivamente das esmolas. “Que ajuda que recebe aqui? chega é dando porrada e espancamento”, afirma um morador de rua. 

Uma voz isolada, mas que pode ser ouvida como um coro, já que quase 80% das pessoas em situação de risco social passam as noites na rua. Muitas espalhadas pela área central do Plano Piloto, Asa sul e Asa Norte; e pelo menos 20% em Taguatinga e 10% em Ceilândia. Poucos dormem em abrigos. 

Ailton de Oliveira de 23 anos, os três filhos e a mulher moram em uma barraca de lona, Ceilândia. “Porque não tinha como sobreviver e ganhar dinheiro. Nossa sobrevivência sempre foi de catar latinha, mas é uma venda que não dá para comprar nada”, conta. 

Por isso Ailton trocou o Espírito Santo por Brasília, assim como tantos outros. Cerca de 80% dos que moram na rua não nasceram no DF, eles vieram especialmente de estados como Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Nem metade cursou até a 4ª série (5º ano) do ensino fundamental. 

Os principais motivos para morar na rua são o desemprego e problemas com a família. 
É por isso que há três anos o aposentado dos correios Willian da Fonseca de 61 anos vive em Taguatinga Norte. Ele é formado em filosofia e ex-católico fervoroso, mas teve um desentendimento, conheceu o álcool e nunca mais voltou para a cidade natal, Pirapora em Minhas Gerais. “Falta vontade, porque o resto tem. Como família, dinheiro, mas a vontade é fraca”, afirma. 

Fraqueza que esta ligada a dependência do álcool. Mas Willian não esta sozinho nesta situação. Dos entrevistados, 13% dos adultos declararam que fazem uso continuo de algum tipo de droga e 10% também consomem álcool. 

Cerca de um terço das crianças e adolescentes que moram nas ruas do Distrito Federal já passaram por orfanatos ou abrigos. E é do lado de fora que muitas vezes acontece o primeiro contato com as drogas. Tanto que 7% revelaram que já estiveram em clinicas de recuperação de dependentes químicos. 

Entre os menores de 18 anos a maioria é de meninos. Quase 40% tem entre 7 e 14 anos. E apesar da situação de risco em que se encontram 55% disseram estar matriculados em escolas, mas 38% admitiram que não frequentam as aulas. Nem um quinto chegou a cursar a 3ª série do ensino fundamental e 7% são analfabetos. 

Um jovem de 14 anos que mora na Rodoviária do Plano Piloto está na 5ª série [6º ano], mas abandonou a escola em julho. Como a mãe esta presa, trocou a casa da tia no Recanto das Emas pela rua. “Às vezes ganho um pastel na pastelaria e também ganho uns negócio para comer”, afirma. 

Ao contrário dos adultos, a maioria das crianças e adolescentes é do DF. Eles nasceram em Taguatinga, Ceilândia e no Gama, mas quase a metade está no Plano Piloto. Mas há os que vivem em outras cidades também. 

Quase 10% dos jovens revelaram que estão na rua pela facilidade em usar drogas; 15% confessaram que fazem uso continuo de algum entorpecente e há os que querem vida nova. Um jovem de 17 anos pede ajuda. “Queira ir para um clínica de recuperação, pois sou viciado em crack já faz uns cinco anos”, diz. 

Enquanto a rua rouba a infância, o sono e ajuda parece cada dia mais distante. A inocência e o sonho de criança, ainda podem mudar o rumo de uma vida. “Eu quero ser bombeiro quando crescer”, afirma uma criança. 

Reportagem: Marcelo Cosme e Hélio Marinho 
Produção: Izabel Mendes e Roniara Castilho 
Edição de Texto: Marina Simpson e Roberta Vaz 
Edição de imagem: Ademir Valentim

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