segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Reforma de rodovias ignoraram necessidade de ampliação de viadutos e pontes

12/12/2010 - Correio Braziliense - Luiz Calcagno

Na subida para Sobradinho, as quatro faixas de rolamento se transformam em três. O gargalo irrita os motoristas e atrapalha a circulação de carros (Gustavo Moreno/CB/D.A Press )
Na subida para Sobradinho, as quatro faixas de rolamento se transformam em três. O gargalo irrita os motoristas e atrapalha a circulação de carros

Mesmo após um investimento milionário para o alargamento de vias em todo o Distrito Federal, motoristas ainda sofrem com engarrafamentos nos horários de pico. Apesar de o trânsito fluir melhor nos trechos reformados, alguns gargalos permanecem, principalmente próximo a pontes e a viadutos que não foram ampliados com as novas faixas. Brasilienses passam mais de 40 minutos presos em estrangulamentos do tráfego como, por exemplo, o que ocorre na entrada de Taguatinga. Lá, as quatro faixas da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) se transformam em apenas três no viaduto que dá acesso à cidade.

O problema é maior para quem chega à região. O trânsito começa a complicar ainda antes do horário de pico, por volta de 16h. Além da lentidão no local, o risco de acidentes nos trechos com afunilamento também é maior. A professora Débora Aires, 36 anos, mora em Vicente Pires e dá aula em Taguatinga. Ela sofre diariamente com o engarrafamento no local. “Essa obra não ficou boa. Às vezes, demoramos mais de meia hora para entrar na cidade. O governo resolve tudo o que está nos arredores do Plano Piloto, mas o resto do DF fica com um trabalho feito pela metade”, criticou.

Os motoristas que trafegam na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) passam por dificuldades semelhantes. A pista tem três faixas que se transformam em apenas duas pistas no viaduto que dá acesso à Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) e à entrada da Candangolândia. A terceira faixa segue rumo à Epia, no sentido Gama. O trânsito no local, que é complicado por conta das obras do viaduto do Núcleo Bandeirante, fica ainda pior nos horários de grande circulação. Quem trabalha nos postos de gasolina conta que, pela manhã, a lentidão vai até as 9h e recomeça por volta de 16h30.

Para o administrador Uirá Veneziane, 26 anos, que passa diariamente pelo viaduto, a falta de planejamento é motivo de atrasos no trabalho. “Há engarrafamentos e o lugar fica ainda mais perigoso. Se o DF não suporta a quantidade de carros que tem, o governo deveria ter se antecipado. Se vão alargar as vias, eles têm que fazer isso direito”, reclama Uirá. “Dependo do meu carro, trabalho com ele e fico constantemente preso no trânsito”, acrescentou. O comerciante Adriano Garrigo, 29 anos, também criticou o tráfego complicado. “Moro no Recanto das Emas e venho para o Núcleo Bandeirante cortando caminho pelo Park Way porque, pela EPNB, não tem condições”, lamentou.

Entre Águas Claras e o Park Way, próximo à ponte do metrô, também há um estrangulamento de faixas. No sentido Park Way, a via de duas faixas é reduzida para uma, volta a ter duas e é reduzida novamente a uma pista de mão dupla, por conta de obras no local. No sentido oposto, o estrangulamento é causado pela obra, que faz com que o trânsito seja desviado, e o que eram duas faixas vira uma única de mão dupla. Além disso, nos viadutos das Saídas Sul e Norte, sentido Aeroporto e Granja do Torto, respectivamente, também há um afunilamento de três para duas faixas.

Colorado
Na subida da BR-020, sentido Sobradinho e Planaltina, após a ponte sobre o Ribeirão Torto, o estreitamento de faixas também causa transtorno para os motoristas. Nesse caso, no entanto, o afunilamento não ocorre por causa da ponte. A redução é na própria pista, que tem partes alargadas antes e depois do trecho assinalado. O trânsito começa a se intensificar por volta de 17h e quem vai para o norte do DF enfrenta entre 20 minutos e uma hora no engarrafamento. De acordo com motoristas que passam pelo local, nos dias de maior lentidão, ambulantes aproveitam para vender água e doces na pista.

A professora de educação física Silene Andreotti, 33 anos, moradora de Sobradinho, contou que vai ao Plano Piloto pelo menos cinco vezes por semana. Ela acredita que os alargamentos de vias melhoraram o trânsito, apesar dos afunilamentos. “É melhor dirigir no DF após as obras. Mas, ainda assim, acredito que tudo está sendo feito às pressas. Nesses trechos, ocorrem muitos acidentes. Perdi meu pai em um acidente de carro em um afunilamento nas obras da Epia”, contou.

Tragédia 

Em 12 de novembro, por volta de 17h20, um Corsa azul placa JEC-6745(DF) atingiu um Corolla prata, placa JFZ-8117(DF), após cair do viaduto, de uma altura de cerca de 12 metros. O motorista do Corsa, um jovem de 17 anos que teria perdido o controle quando seguia rumo à EPTG, morreu na hora. Outro rapaz, também de 17 anos, morreu no mesmo dia, no Hospital de Taguatinga.

Risco maior de acidentes e de mortes

Especialistas classificam os estrangulamentos em vias que já foram alargadas como uma falta de planejamento. O professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian acredita que os gargalos aumentam o risco de acidentes entre os motoristas. “Isso é uma questão de projeto de traçado. Encontraram um viaduto, mas não o alargaram. Isso causa engarrafamento. É falta de planejamento global, um trabalho feito pela metade”, criticou. O especialista alerta que a demora para concluir as obras pode gerar um aumento nos custos. “Quando adiamos, acabamos fazendo a obra em regime de urgência, às pressas. Dessa forma, fica malfeito. Se for em época de chuva, tem um monte de complicações e pode ficar o dobro do preço”, alertou.

Morador do Grande Colorado, o estudante de gastronomia Matheus Eleutério, 20 anos, cruza a BR-020 todos os dias e enfrenta o gargalo do trânsito no local. Ele descreveu o tráfego na subida como “cansativo”. Para ele, o governo está mais interessado em inaugurar obras do que concluí-las de fato. “Estamos cheios de obras na cidade, mas os políticos só se preocupam com inaugurações. Esse afunilamento mostra que o dinheiro da população está sendo jogado fora”, acusou.

O GDF assume que os trechos estão incompletos. O secretário de Transportes, Paulo Barongeno, explicou ao Correio que, no caso do viaduto de Taguatinga, a segunda etapa das obras da Linha Verde inclui o alargamento de faixas do elevado, o que resolveria o engarrafamento. “A próxima fase do projeto prevê a implantação de corredores exclusivos e a ampliação de vias como a Hélio Prates, Comercial, Samdu, SIG e ESPM”, declarou Barongeno.

O diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem, Genésio Tolentino, garantiu que o governo tem planos para “equacionar os problemas de congestionamento”. No entanto, ele prefere não falar em datas. Sobre a DF-075 (EPNB), ele diz que a pista será alargada, com a construção de viadutos. Na subida que vai para Sobradinho, também há estrangulamento após a ponte do Ribeirão do Torto. “A obra será feita após a aprovação dos respectivos projetos pela área ambiental”, disse Tolentino.

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