domingo, 27 de setembro de 2009

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Taxa de fecundidade no Distrito Federal despenca 30% em um anoEm 2008, nasceram 30 mil crianças na capital federal, número mais baixo da década. Cada vez mais, casais optam por um só ou nenhum filho

Helena Mader

Publicação: 27/09/2009 07:16 Atualização: 27/09/2009 08:16

A advogada Tatiana Santos de Aguiar, 35 anos, tem dois irmãos. Os pais do servidor público Antônio Roger Pereira de Aguiar, 37 anos, tiveram três filhos. Na contramão dessa vivência, o casal decidiu seguir por um outro caminho e planejou ao extremo a chegada do filho Guilherme, de um ano e meio. A vontade de ter apenas uma criança em casa era tão grande que Roger se submeteu a uma vasectomia duas semanas após o nascimento do garoto. “Nunca pensamos em outra gravidez. Assim, podemos dar ao Guilherme toda a atenção e investirmos mais no futuro dele”, conta Tatiana.

Tatiana e Antônio planejaram a chegada de Guilherme e não poupam investimentos no único filho - (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Tatiana e Antônio planejaram a chegada de Guilherme e não poupam investimentos no único filho
A família Aguiar não é exceção. Casais com apenas um filho e até mesmo mulheres que optam por jamais engravidar são cada vez mais comuns. Essa nova mentalidade já é uma realidade em todo o Brasil e, principalmente, nos países de primeiro mundo. A novidade é que as taxas de fecundidade nunca foram tão baixas em Brasília. No ano passado, nasceram 30 mil crianças no Distrito Federal, número 30% inferior ao registrado em 2007. Essa taxa é a mais baixa da década. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram coletados em 2008.

A cobrança por uma maior capacitação profissional e as exigências do mercado de trabalho levam as mulheres a adiar cada vez mais a gravidez. A vontade de fazer um investimento alto na educação das crianças também contribui para os casais terem menos filhos.

Grande festa
Os Aguiar, por exemplo, não poupam investimentos para o filho único. Guilherme tem quatro babás e dispõe de uma brinquedoteca em casa. O primeiro aniversário do menino foi celebrado com uma grande festa, que custou à família R$ 95 mil. “Se tivéssemos mais de um filho, não poderíamos oferecer toda essa estrutura, que eu acho fundamental”, explica a advogada Tatiana. “A vida é muito corrida, o pouco tempo que tenho quero dedicar integralmente a ele”, acrescenta Antônio Roger.

Hilton e Aparecida tiveram Felipe só depois de quitar o apartamento - (Adauto Cruz/CB/D.A Press)
Hilton e Aparecida tiveram Felipe só depois de quitar o apartamento
O número de filhos por mulher também cai ano a ano (veja arte). Na década de 1960, cada família tinha cerca de seis filhos. Nos anos 1990, a média de filhos por família já era de 2,3. Hoje, no Distrito Federal, cada mulher tem, em média, 1,82 filho — índice abaixo da média nacional, que é de 1,95.

Esses dados estão fortemente ligados a uma grande mudança cultural na sociedade. Há 50 anos, era raro encontrar uma mulher que adotasse métodos anticoncepcionais. Mas de lá para cá, mudaram a mentalidade e a realidade do país. Hoje, a presença feminina no mundo do trabalho é forte e, para investir na carreira e nos estudos, a maternidade ficou em segundo plano. De acordo com o IBGE, 57,1% das mulheres brasilienses estão no mercado de trabalho atualmente.

A estatística Tirza Aidar, que integra o Núcleo de Estudos de População da Unicamp, destaca que a redução da taxa de fecundidade foi muito rápida no Brasil. “Aqui, esse fenômeno levou apenas 50 anos. Nos países de primeiro mundo, isso ocorreu de forma mais lenta, o processo durou quase dois séculos”, compara a especialista.

Tirza Aidar destaca uma consequência positiva na redução do número de crianças. “Com isso, fica mais fácil investir numa maior qualidade da escolarização”, afirma a estatística. “A quantidade de casais que não quer ter filhos também tem crescido. As pessoas têm optado por investir na carreira e, assim, adiam o início da vida reprodutiva”, conclui.

A preocupação com a vida profissional foi preponderante para o planejamento familiar da servidora pública Maria Aparecida de Sousa Mendes, 36 anos. Depois do casamento com o analista de informática Hilton Pinheiro Mendes Sobrinho, 38, ela decidiu primeiro quitar o apartamento, passar em um concurso público para, depois, pensar em engravidar e ter o único filho Felipe, hoje com 5 anos. “Foi tudo programado. Eu e meu marido somos de famílias grandes, mas só tivemos um filho porque as coisas hoje são muito diferentes. Temos outras prioridades”, explica Maria Aparecida. A ideia de ter um segundo filho não foi para a frente porque agora é o marido, Hilton, que pensa em fazer concurso público.

Leia a íntegra da matéria na edição impressa do Correio Braziliense.

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