sábado, 15 de maio de 2010

SIA faz 50 anos e tem fôlego para crescer


SETOR DE INDÚSTRIA »
A abertura de mais um trecho, com 200 lotes, permitirá ao setor garantir um total de 90 mil empregos diretos, por meio das mais de 5 mil empresas instaladas, que respondem por 56% do ICMS recolhido

Mariana Branco - Correio Braziliense
Publicação: 15/05/2010 10:54
O Trecho 17, até 2012, deverá ter 80% de sua área ocupada. Hoje, apenas 40% dos empreendimentos têm alvarás de construção e sete empresas estão em funcionamento - (Fotos: Kleber Lima/CB/D.A Press )
O Trecho 17, até 2012, deverá ter 80% de sua área ocupada. Hoje, apenas 40% dos empreendimentos têm alvarás de construção e sete empresas estão em funcionamento
Nascido durante a construção de Brasília para armazenar máquinas e material utilizado na obra, o Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) completa 50 anos em julho consolidado como uma das áreas economicamente mais importantes da capital. O bairro, inicialmente subordinado ao Guará e que em 2005 tornou-se região administrativa independente, abriga 5 mil empresas que oferecem cerca de 80 mil empregos diretos. Por lá circulam, diariamente, cerca de 150 mil pessoas.O setor é ainda responsável por aproximadamente 56% da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) do Distrito Federal.

Mesmo que os números impressionem, o SIA não esgotou sua capacidade de expansão e crescerá mais nos próximos anos. O Trecho 17, que teve a criação autorizada em 2007 sob a forma de polo do Programa de Apoio ao Empreendimento Produtivo do DF (Pró-DF), tem empresas de portas abertas e em construção. Deve ter 80% de sua área ocupada até 2012 e criar 10 mil empregos quando funcionar com capacidade plena, segundo estimativa da Administração Regional. A nova quadra tem 200 lotes. Atualmente, há 40 alvarás concedidos para construção de novos empreendimentos neles, e sete empresas em operação.

O adensamento e a criação de espaços de ocupação no Setor de Transportes Rodoviários e Cargas (STRC), área sob a administração do SIA que ainda tem lotes vagos, é outro projeto de expansão para a região, e pode alçar o setor a um crescimento maior. O STRC, que comporta aproximadamente 100 garagens e galpões de transportadoras, tem espaço físico para ganhar pelo menos mais 100 empresas. A questão é uma reivindicação antiga do empresariado do DF, e ainda em estudo pelo governo local. Para que as terras disponíveis possam ser ocupadas, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma) precisa criar os lotes.

Humberto Verçosa diz que, apesar dos problemas iniciais, valeu a pena sair do aluguel para um espaço no SIA - (Kleber Lima/CB/D.A Press)
Humberto Verçosa diz que, apesar dos problemas iniciais, valeu a pena sair do aluguel para um espaço no SIA
“Cerca de 80% do produto que chega em Brasília por outros estados passa pelo STRC, que, por insuficiência de estrutura, está se tornando um gargalo. É preciso mais espaço para as empresas armazenarem produtos”, afirma Otávio Rufino, administrador do SIA.

O administrador afirma ainda que a criação do Trecho 17 era necessária e atendeu a uma demanda do mercado do DF por mais espaços dentro do perfil do Setor de Indústria e Abastecimento. Ele diz, no entanto, ter recebido reclamações de falta de transparência na concessão de lotes do Pró-DF na área. “Empresários do próprio SIA que apresentaram projetos viáveis técnica e economicamente para o Trecho 17 se queixaram de que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo não deu uma resposta satisfatória para a recusa dos pedidos. Eles apresentaram pedidos logo no início da liberação da área, e viram empresas que fizeram requerimentos tardios serem atendidas”, afirmou.

Rufino se reuniu ontem com o governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, e com o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SDET), Antônio Coelho, para discutir a questão. “Houve uma determinação do governador para que sejam concedidas explicações técnicas para a recusa. Eu estou tentando, e não consigo saber da SDET o total de lotes que já foram 
Celso afirma que a falta de transporte complica para os trabalhadores - (Kleber Lima/CB/D.A Press)
Celso afirma que a falta de transporte complica para os trabalhadores
concedidos dos 200 e a quem. Só sabemos conforme recebemos pedidos de alvará”, disse ele, que admitiu que a suspensão(1) da concessão de lotes do Pró-DF decidida pelo governador pode atrasar a conclusão da ocupação do Trecho 17.

Dificuldade
A reportagem tentou saber da SDET o número de lotes na nova quadra do SIA que já foram entregues a empreendedores, mas a assessoria de comunicação do órgão disse que não seria possível levantar a informação até o fechamento desta edição. Os lotes em áreas do Pró-DF, programa que objetiva o crescimento econômico por meio de um conjunto de ações de estímulo, são concedidos a interessados por meio da secretaria e, em seguida, devem ser comprados da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Quando são contemplados com lotes, os empresários devem procurar a Administração Regional da área em que construirão e requerer o alvará para iniciar a obra.

O fôlego do Setor de Indústria e Abastecimento para seguir se expandindo por mais algum tempo é garantido, mas restrito. Otávio Rufino diz que a região está atingindo seu limite da capacidade de crescimento. “Já temos alguns problemas de estacionamento, por exemplo. A expansão de Brasília levou alguns setores que não acharam ambientação na capital a irem para o SIA. Hoje, além de indústria e armazenamento temos comércio, serviços e até órgãos públicos em prédios alugados”, afirma. Ele cita, por exemplo, o prédio onde funciona parte da estrutura do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), no Trecho 1, e a unidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Trecho 5.

1 - Suspeitas
Denúncias de fraudes na gestão do Programa de Apoio ao Empreendimento Produtivo (Pró-DF) e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab) levaram o governador Rogério Rosso a assinar um decreto assim que assumiu o cargo suspendendo a concessão de lotes nos dois âmbitos por 30 dias. Em outro decreto, ele determinou a realização de auditoria em todos os contratos da administração pública. Na terça-feira última, durante anúncio de um pacote de medidas fiscais para o DF. Rosso pediu paciência aos representantes do setor produtivo e afirmou que o Pró-DF precisa ser reavaliado.

Espaço flexível
Os lotes do Trecho 17 seguem o perfil que a ocupação do SIA adquiriu nos 50 anos de existência e, por isso, a quadra foi desenhada com um adicional de flexibilidade. A arquiteta Myrna Cunha Pereira Raw, diretora do Departamento de Obras e Serviços Públicos da Administração Regional, explica que, enquanto as normas de gabarito dos trechos existentes, 1 a 16, previam estruturas, as traçadas para o 17 permitem diferentes formas e tamanhos.

“Os lotes do Trecho 1 do SIA têm cerca de 8 mil metros quadrados. Do trecho 4, perto de 3 mil metros quadrados. Dos demais, cerca de 2 mil. E são lotes retangulares, pensados para a indústria. No trecho 17, tem lote retangular, quadrado, trapezoidal, e área vai de 800 a 8 mil metros quadrados. A variedade é maior”, diz Myrna.

Quem visita a área se depara com algumas obras, um ou outro negócio em funcionamento, e muitos terrenos desocupados. A região está asfaltada e tem serviços de luz e água.

“A maior dificuldade é a dos trabalhadores, com o transporte”, conta Celso de Castro, gerente da rede atacadista Supermercado dos Tecidos, que tem lojas no Gama e na 510 Sul e instalou sua central de distribuição no Trecho 17. Ele diz ainda que o endereço é pouco conhecido, mas que para a empresa isso não foi um problema.

A Geo Brasil, empresa de perfuração e limpeza de poços artesianos, foi uma das primeiras a chegar ao Trecho 17. O diretor Humberto Verçosa conta que o empreendimento abriu as portas no SIA há um ano e meio. Durante 12 meses, não havia linhas telefônicas. “A gente se virava com celulares”, relata. Na época da construção da sede, como água e energia ainda não estavam disponíveis, a empresa alugava geradores e caminhões-pipa. Ainda assim, para Humberto, o investimento foi válido. “Saímos do aluguel e o SIA é um endereço muito conhecido. Temos certeza de que o trecho será muito movimentado no futuro”, afirma.

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