quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Obra atrasada e incompleta

Obra atrasada e incompleta
(16/09/2010 - 11:49)
Correio Braziliense - 16/09/2010


Depois de dois adiamentos, a reinauguração da via acontece no fim de outubro. Ciclovia e corredor exclusivo para ônibus, porém, não serão entregues

Noelle Oliveira
As obras da Estrada Parque Taguatinga-Guará (EPTG) devem ser entregues em 30 de outubro. Mas a liberação da nova estrutura da via contará ainda com significativos problemas para funcionar. Um deles será a circulação dos veículos do transporte coletivo no local. O projeto prevê um corredor exclusivo para ônibus, além de duas vias marginais com o objetivo de descongestionar o fluxo de carros. Para tanto, são necessários 400 veículos especiais, que contam com portas dos lados direito e esquerdo. A compra dos coletivos, no entanto, ainda não foi licitada. Isso porque o edital para a abertura da concorrência está em processo de análise no Tribunal de Contas do DF (TCDF) desde março deste ano. Sem a conclusão do processo, o Governo do Distrito Federal (GDF) não pode dar continuidade ao plano. 

Um primeiro edital para a compra dos veículos chegou a ser publicado em fevereiro, mas o TCDF pediu ajustes no texto. Após o exame e a aprovação do novo documento, a Secretaria de Transportes irá comunicar a data de reabertura do procedimento. Ainda não há previsão, no entanto, para que isso ocorra. “Assim que a licitação sair do TCDF, daremos o encaminhamento necessário. Espero iniciar o processo ainda esse ano também, mas aí não depende apenas da gente”, avaliou o governado do DF, Rogério Rosso (PMDB), ao visitar o canteiro de obras na última segunda-feira. A partir do momento que a licitação for lançada, o processo deve demorar aproximadamente seis meses para ser concluído. 

Outro problema que também promete irritar os usuários da EPTG em sua reinauguração é a não construção das ciclovias previstas para trajeto. As obras, que segundo o projeto inicial devem se estender por toda a via, só devem ocorrer em um segundo momento, após a inauguração da parte já concluída. “A obra das ciclovias está mantida, mas é algo muito mais simples. Não podemos fazer tudo ao mesmo tempo. Trabalhamos com canteiros de obras muito grandes, que acabariam destruindo as pistas para ciclistas antes mesmo da conclusão da via principal”, afirmou Rosso. 

Limitação
Para o professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques, a inauguração da EPTG sem a conclusão das opções alternativas de transporte promete incentivar ainda mais o uso de veículos particulares. “Dessa forma, a obra fica limitada a melhorar as condições para os carros e o essencial é justamente a mudança de prioridade, pois assim estaríamos investindo em uma solução para o problema do trânsito no DF. Do jeito que foi feito, teremos ainda mais gente andando de carro e saturando a via”, considera. 

Para o presidente da organização não governamental Rodas da Paz , Ron aldo Martins Alves, o atraso na construção das ciclovias é uma prova da falta de compromisso do governo local com o transporte alternativo no DF. “A obra recebeu recursos do BID por ser algo sustentável, o que se caracteriza inclusive pela construção das ciclovias, existe um comprometimento legal no contrato. Trata-se de uma falta de visão estratégica para desafogar o trânsito”, avalia. 

Problemas no metrô
Na manhã de ontem, os usuários do metrô enfrentaram transtornos nas viagens. A circulação de trens no túnel da Asa Sul, na altura da SQS 110, ficou parcialmente interrompida das 10h30 às 12h30 . De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, houve uma falha no equipamento responsável pelo alinhamento de rota daquele trecho, o que impossibilitou a passagem de mais de um vagão no túnel. A área ficou bloqueada temporariamente por medida de segurança e técnicos de manutenção foram encaminhados ao local para solucionar o problema. Por conta da paralisação, os trens circulavam apenas em uma via, alternando o tráfego nos sentidos da Estação Central e os ramais Ceilândia —Samambaia. Ao longo do dia, não foram constatados novos problemas.

Mudanças e demissões
A previsão inicial para a entrega das obras da EPTG era abril deste ano, durante as comemorações dos 50 anos da cidade. Desde então, a conclusão da reforma já foi adiada para junho e posteriormente para outubro. O prazo contratual, por sua vez, se encerra em 12 de novembro. “Mesmo assim, o que queremos é seguir a recomendação do governador, ou seja, entregar essa obra em 30 de outubro”, afirmou o novo secretário de Transporte, Paulo César Borongeno. Ele, que é delegado da Polícia Civil há 11 anos, foi nomeado na última terça-feira por Rosso para substituir o então comandante da pasta, exonerado na mesma data, Gualter Tavares Neto. A mudança ocorreu após o governador se irritar com a previsão de mais um atraso na entrega da reforma da EPTG, que ficaria para dezembro. A dança das cadeiras acabou atingindo também o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e o Departamento de Transportes Urbanos do Distrito Federal (DFTrans). 

Luiz Carlos Tanezini, então diretor-geral do DER, foi substituído pelo engenheiro aposentado Genésio Anacleto Tolentino. O secretário adjunto da pasta será Marco Antônio Nunes de Oliveira, que deixa o cargo de diretor do DFtrans. O comando do departamento, por sua vez, passa para Temístocles Eleuterio Cruz de Souza, que ocupava o cargo de diretor operacional do órgão. 

Pressa
Em seu primeiro dia de trabalho, Paulo César Borongeno se reuniu com os responsáveis pelas obras. Ele também afirmou que vai conversar com o TCDF sobre a licitação dos novos ônibus. “Independentemente disso, o funcionamento dos coletivos(1) nas vias marginais continuará normalmente. O que nós queremos é liberar o mais rápido possível a via para o transporte. Nestes 100 dias que nos restam de governo, ainda dá para fazer muita coisa”, considerou. O novo secretário prometeu se reunir, ainda, com o comando do Metrô-DF para avaliar as pendências no andamento das obras do Veículo Leve Sobre Trilho (VLT), que estão suspensas por recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. (NO) 

1 - Veículos modernos
Os ônibus que circularão pela EPTG serão articulados, com capacidade para até 160 passageiros. Os passageiros que descerem na via principal poderão pegar micro-ônibus que circularão pelas marginais para chegar ao destino final. Serão 17 pontos de ônibus ao longo de 19km. O trajeto contará, também, com 17 passarelas para a travessia de pedestres.

O número
R$ 240 milhões
Valor total das obras da EPTG

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